Preditores de mortalidade em adultos admitidos por malária grave numa Unidade de Cuidados Intensivos em Angola: Critérios da OMS de 2015
DOI:
https://doi.org/10.70360/rccse..v.67Palavras-chave:
P. falciparum, Malária grave, Mortalidade, AngolaResumo
Introdução: A malária é uma das doenças infecciosas humanas mais prevalentes e a doença parasitária humana mais devastadora. Pretendemos, neste estudo, determinar a associação entre os critérios de malária grave definidos pela Organização Mundial da Saúde à admissão dos doentes numa Unidade de Cuidados Intensivos e a ocorrência de óbito.
Métodos: foi realizado um estudo longitudinal, observacional, analítico, tipo coorte retrospectivo na Unidade de Cuidados Intensivosda Clínica Sagrada Esperança, durante 4 anos, de uma amostra de doentes adultos admitidos por malária grave, segundo os critérios revistos pela OMS em 2015. Foi utilizada a estatística descritiva e a inferencial, que se baseou predominantemente em modelos de regressão logística binária. A área abaixo da curva ROC foi utilizada para avaliar a capacidade discriminatória do modelo.
Resultados: foram envolvidos 250 doentes. De entre os critérios de gravidade, a prostração 243 (97,2%), a hiperparasitémia 202 (80,8%), a icterícia 171 (68,4%) e as alterações de consciência 130 (52,0%) foram os mais observados na nossa amostra. O modelo final, que apresenta uma elevada sensibilidade (93,8%), especificidade (72,4%) e precisão (88,8%), bem como capacidade discriminante excelente (AUC=0,928; p<0,000). As variáveis estatisticamente significativas para a ocorrência de óbitoforam cinco: a hemorragia significativa (OR= 21,562; IC95%= 2,191 – 212,193); o choque (OR= 13,645; IC95%= 5,487– 33,935); a acidose (OR=5,644; IC95%= 1,916 – 16,627); a hipoglicémia (OR= 4,544; IC95%= 1,209– 17,081) e as alterações de consciência (OR= 3,164; IC95%= 1,218 – 8,220).
Conclusão: a malária grave continua a ser uma causa de elevada mortalidade. Os predictores: hemorragia significativa, choque, acidose, hipoglicémia e alterações de consciência, identificados à admissão na Unidade de Cuidados Intensivos foram significativamente determinantes para a ocorrência de óbito e devem ser usados prioritariamente para estratificar os doentes para uma estratégia de tratamento mais intensivo.
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