Trabalho por turnos e consequências para a saúde dos Enfermeiros da Clínica Sagrada Esperança - Luanda

Resumo

INTRODUÇÃO: No campo da Saúde, os cuidados de enfermagem pressupõem, na maior parte das vezes, um serviço prestado vinte e quatro horas por dia, o que só é possível através do trabalho por turnos. Apesar dos diversos estudos apontarem para
o trabalho por turnos apresentar consequências negativas (físicas, psicológicas, sociais e familiares), para os trabalhadores no ramo da saúde ele é inevitável. Pretendemos avaliar a existência de riscos para a saúde dos enfermeiros que trabalhem regime de turnos na Clínica Sagrada Esperança, Ilha de Luanda.
METODOLOGIA: Trata-se de um estudo transversal de observação da actividade real e das condicionantes do trabalho e da aplicação de um questionário anónimo de auto-resposta, adaptado do Questionário sobre o Trabalho por Turnos. Foram
incluídos enfermeiros abrangidos pelo regime de trabalho por turnos, incluindo noites, que aceitaram participar no estudo, e excluídos enfermeiros que preencheram menos de 40% do questionário. Foram colhidas informações demográficas e sintomas que possam estar relacionados com este tipo de trabalho. Calculou-se o Qui-quadrado para aferir a relação entre os sintomas e actividades por turnos.
RESULTADOS: Foram inqueridos 102 enfermeiros, sendo 71% do sexo feminino, com uma idade média de 36 anos±8. Com vínculo efectivo na Unidade hospitalar em estudo eram 71 (70%), com mais de 5 anos de profissão 59 (58%) e de serviço 54 (53%).
Quanto àsqueixas,52 (51%) referiram dispepsia, 28 (27%) aumento da pressão arterial. Em relação às perturbações do sono, 75 (74%) dormem menos de 7 horas por dia e 60 (59%) referiram algum tipo de alteração do sono. Verificou-se relação entre o exercício de actividade em mais que uma instituição e a existência de aumento da pressão arterial (p=0,002), assim como entre ter vínculo laboral de colaboração e a pressão arterial aumentada (p=0,001).
CONCLUSÕES: Quando se trabalha por turnos em mais do que um local de serviço há consequências negativas na saúde (a mais evidente foi pressão arterial aumentada) e também maiores distúrbios no sono dos trabalhadores.